Nós Somos A Cidade: Lovecraftiano, Da Maneira Certa

Nós Somos A Cidade é um romance escrito pela autora estadunidense N. K. Jemisin, que já ganhou não um, não dois, e sim três Hugos. Ou seja, ela é muito boa. Nós Somos A Cidade foi traduzido pro português brasileiro pela Editora Suma, e o livro está atualmente em pré-venda! Tive a oportunidade de ler antecipadamente a obra traduzida, e vou compartilhar minhas impressões nesta resenha. No livro, a cidade de Nova York acabou de nascer, e seus avatares devem batalhar contra o Inimigo para garantir a sobrevivência da cidade e das pessoas que vivem nela.

Em primeiro lugar, eu amo a escrita da N. K. Jemisin, e Nós Somos A Cidade não foi exceção. Acho que a principal característica da escrita dela é como ela não tem medo de ser arrojada com o formato; ela também não tem medo de jogar o leitor no meio da ação e ir explicando as coisas aos poucos, só depois, e é exatamente isso o que acontece com essa obra. Já conhecendo o estilo dela, esperei no começo uma boa explicação para tudo o que estava acontecendo no início e não fui decepcionada. Isso é interessante também porque poupa o leitor de começar a história lendo longos parágrafos de exposição.

Capa da obra

Outra característica digna de nota é o uso de elementos lovecraftianos. H. P. Lovecraft, como todos sabemos, foi um autor extremamente racista, e o horror cósmico é uma reflexão do racismo dele enquanto indivíduo (o autor está morto, pero no mucho). Em Nós Somos A Cidade, há uma apropriação, da melhor forma possível, desses elementos: o horror cósmico se torna porta de entrada para trazer discussões muito pertinentes sobre a supremacia branca, o capitalismo, e a forma como eles operam, com a gentrificação de áreas urbanas ocupadas por pessoas não-brancas, por exemplo. Não vou poder dar muitos detalhes sobre como o horror cósmico aparece na trama para não dar spoilers, mas saibam: para quem curte horror cósmico, mas racismo nem tanto, esta obra é uma excelente leitura.

Também gostei muito de como a história se utilizada do tropo “found family”, ou seja, personagens que não tem relações de sangue formando uma unidade familiar, ou algo próximo a isto. Como já expliquei no parágrafo de introdução, a cidade de Nova York tem seus avatares, e uma parte deles acabam tendo que trabalhar juntos para evitar a destruição do próprio lar. A convivência gerada por esta missão leva a criação de laços profundos entre eles, e eu particularmente amei acompanhar o desenvolvimento deles de estranhos a amigos a família.

Falando da relação entre eles, gostei bastante dos protagonistas da história, os avatares da cidade de Nova York. Nem todos eles são pessoas agradáveis, mas todos carregam consigo seus próprios conflitos, pensamentos e desejos: são personagens bastante multifacetados e carismáticos, apesar dos defeitos. Devo dizer que gostei da escolha de colocar a maioria dos avatares de Nova York sendo não-brancos, alguns dos quais são LGBTQIA+ também!

Não tenho ressalvas a fazer em relação a Nós Somos A Cidade. Acho que talvez devo deixar o meu aviso para leitores que não conheçam o estilo da N. K. Jemisin que o começo pode parecer confuso, mas tudo vai sendo explicado durante o curso da história, não fica confuso para sempre.

Resumindo tudo: Nós Somos A Cidade é uma obra que revisita o horror cósmico e transforma em algo novo, numa narrativa dinâmica, arrojada, que fala sobre os conflitos das comunidades e pessoas não-brancas da cidade de Nova York. Aborda temas como neonazismo, Alt-Right, gentrificação, mas também fala de amor, da construção de laços e da possibilidade de um futuro melhor. Para quem curte horror lovecraftiano, histórias com found family, tramas com muita ação e suspense, mas com final feliz, Nós Somos A Cidade é a leitura certa.

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