Lebre da Madrugada

Lebre da Madrugada é um romance de alta fantasia escrito por Arthur Malvavisco, e publicado independentemente na Amazon. Nele, acompanhamos dois personagens: Andras, um cirurgião excomungado, com poderes além de sua compreensão, e Aeselir, um senhor da guerra aposentado, por assim dizer, de uma nação inimiga da nação de Andras. Naturalmente, a história é sobre o relacionamento entre os dois. Andras salva Aeselir da morte e isso engatilha uma série de acontecimentos que os levarão ao limite, e as provações no caminho deles fortificarão um laço improvável, mas profundo.

Isso tudo para dizer que Lebre da Madrugada eu diria que é uma romantasia, ou seja, uma história de fantasia que tem um relacionamento ao seu centro. Não há um subenredo romântico: o romance é o coração da narrativa, não uma perna ou um braço. E como romantasia, a obra funciona muito bem, especialmente para os fãs de um desenvolvimento lento, paulatino, que é o meu caso. Andras e Aeselir são personagens muito diferentes, entretanto é fácil entender o que atrai um ao outro, e o fogo mais lento faz com que o afeto entre eles faça sentido.

Capa da obra

Para além do ship, a prosa da obra é muito atmosférica. Arthur Malvavisco ambienta bem o leitor e consegue usar todos os sentidos nas suas descrições, mas sem tornar a leitura chata e forçar o leitor a passar páginas e páginas lendo descrições minuciosas que não vão a lugar nenhum. Pelo contrário: os detalhes no texto são os detalhes certos para formar uma pintura clara do que está acontecendo.

E é nesta parte que eu devo confessar que de vez em quando eu até gosto de uma alta fantasia eurocêntrica. Lebre da Madrugada é bem eurocêntrica, felizmente não de um jeito óbvio ou muito batido; contém os lugares comuns da Alta Fantasia (incluindo o eurocentrismo hahaha), mas traz algo de novo mesmo assim, em especial se estamos falando da magia. Pelo que entendi da história, existem inclusive outras dimensões, o que é um conceito bem interessante.

Aqui nós chegamos na parte das ressalvas. Eu dei quatro estrelas para Lebre da Madrugada, por duas razões. A primeira delas é que senti falta de algumas explicações mais concretas. A história é muito boa em não dar infodumps, e inserir informações aos poucos, ou dar apenas dicas e deixar que o leitor chegue às suas próprias conclusões, o que é ótimo, porém em alguns momentos eu senti como se não tivesse dicas o suficiente para entender alguns aspectos centrais da narrativa, em especial de tratando de Ilúria. Ilúria é a terra natal de Aeselir, e me parece que é, na verdade, em outra dimensão, mas comecei a história pensando que era outro planeta, e terminei sem ter certeza se é mesmo outra dimensão: o texto não explica bem, e, para mim, essa é uma das coisas que o leitor deveria saber com certeza.

A outra ressalva é que o foco narrativo poderia ser mais bem trabalhado. O narrador é de terceira pessoa e majoritariamente limitado a um personagem por cena, mas às vezes o ponto de vista “escapava” para outro personagem, ou às vezes usava um termo que o personagem do ponto de vista não utilizaria para se descrever (como o narrador nas cenas do Aeselir o chamando de “o iluriano”). Principalmente, senti que faltou ser trabalhado os diferentes tons dos personagens, para diferenciar melhor um ponto de vista do outro.

De maneira geral, a experiência de ler Lebre da Madrugada foi muito divertida. Para quem curte romance, mas também curte uma alta fantasia mais sombria, mais atmosférica, esse livro é uma excelente leitura.

Lebre da Madrugada está disponível para compra aqui.

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