Sobre Humanas Fúrias é uma coletânea de contos especulativos escrita por Osíris Reis, condecorada pelo Prêmio Cassiano Nunes do Fundo de Apoio À Cultura do DF. Os contos presentes nela variam da ficção científica, à fantasia, ao horror. Uma parte dos contos não tem relação entre si, mas em uma fração deles acompanhamos um lobisomem frustrado no trabalho chamado Osmar, e seu conflito com o patrão e o emprego.
Acredito que o ponto mais forte dessa coletânea seja o estilo. Os contos presentes nela mais se assemelham muito a crônicas no comprimento, no humor irônico e no foco das questões do dia a dia, apesar de, claro, os contos lidarem com o fantástico em diversas formas. Isso tornou a leitura fácil, e muito divertida. Particularmente, eu adoro crônicas, então Sobre Humanas Fúrias misturou duas coisas que eu gosto demais.
E, por causa do estilo de crônica, os contos são bem “enxutos” em questão de worldbuilding, o que não é um problema: muito do universo onde as histórias se passam não é explicado, mas o pouco que é exposto responde e muito bem as perguntas que poderiam ser levantadas durante a leitura. Apesar dos contos serem bem simples e diretos, não senti que faltou nada, nem em questão de informação, nem em questão narrativa. O autor soube trabalhar muito bem com menos espaço de página e soube dosar bem o que era importante ou não de ser incluído.
Outro ponto forte de Sobre Humanas Fúrias foi o personagem Osmar, lobisomem. A coletânea intercala contos “soltos” e os contos sobre Osmar. Conforme vamos lendo, descobrimos mais sobre ele, como lida com a licantropia, e como lida com o emprego ruim e o chefe igualmente ruim. Apesar do arco narrativo ser sobre um lobisomem, os contos que acompanham Osmar têm uma atmosfera de vida comum, cotidiana, e trazem questões muito presentes no mercado de trabalho e nas relações de empregado e chefe.
Acredito que a única ressalva que eu tenho a fazer tem a ver com o primeiro conto. O primeiro conto é sobre Osmar, e temos nele uma cena de sexo que, a meu ver, foi desnecessária. Esta cena de sexo foi muito no estilo de sexualizar desnecessariamente uma personagem feminina (por que afinal para quê mais servem as personagens femininas??? /ironia). Mas, apesar de meio chateada, insisti na leitura, e devo dizer que o que acontece no primeiro conto não se repete na história, e as narrativas que se seguem são bem mais legais.
De maneira geral, Sobre Humanas Fúrias não é a obra menos representativa que li (alguns protagonistas são aquileanos), contudo senti falta de personagens femininas durante a leitura.
Apesar dos pesares, considero Sobre Humanas Fúrias uma leitura divertida, dinâmica e bastante refrescante, com uma escrita cheia de personalidade, muito indicada para quem curte ficção especulativa, mas também curte uma literatura curta, arguta, focada no cotidiano, algo para além dos calhamaços épicos tão comuns à ficção especulativa.
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