Ao contrário do meu último post, vamos falar de coisa boa e representativa. Uma Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil é um romance de ficção científica escrito por Becky Chambers, e publicado aqui no Brasil pela Darkside Editora, em uma belíssima edição de capa dura (com glitter!).
Nele, acompanhamos a odisseia de Rosemary, uma guarda-livros, a bordo da Andarilha, uma nave furadora de buracos de minhoca, em uma longa viagem rumo a um destino perigoso (porém bem pago), bem como está dizendo o título.
Como o primeiro livro de uma série, fica claro que seu objetivo parece ser explorar o universo aonde a história se passa e continua após o fim da obra, mas quase sem infodumping e de maneira natural, com um enredo fechado e completo em si mesmo – evitando, assim, um dos grandes erros da maioria das primeiras obras dentro de uma série.
E que universo! Becky Chambers consegue sair de vários lugares comuns da ficção científica, ainda que mantenha muitos elementos comuns, como naves, tecnologia mais puxada para o inorgânico e inteligências artificiais. A diversidade de espécies alienígenas e costumes diferentes presentes, as interações entre elas e a história galáctica até o ponto onde o enredo começa no romance, tudo foi claramente pensado com bastante carinho.
Isso foi essencial para manter a qualidade do livro. O único ponto fraco que identifiquei foi, de fato, compensado por isso. Como o objetivo da obra em si é introduzir o leitor ao universo e aos personagens, tão protagonistas quanto Rosemary, por vezes, a sensação da leitura é que ela não vai chegar a lugar algum em especial, e, de fato, alguns dos eventos, ao final, não contribuíram de forma significativa para o conflito, embora sem dúvida contribuam para o andamento da série como um todo.
O enredo principal não é, realmente, o ponto deste romance, e sim o processo de Rosemary em tornar a Andarilha em sua casa e sua nova família; o fato do cenário e dos demais personagens serem carismáticos mantém a leitura interessante, mesmo que, em questão do andamento do conflito principal do primeiro romance, a história parece não caminhar muito.
Rosemary em si também não foi uma protagonista que me chamou muito a atenção, à princípio, mas todo o resto me fez completar a leitura em um piscar de olhos.
A questão da representatividade dentro da obra também é muito interessante. A autora não teve medo de explorar o pouco explorado, incluindo o tema mais popular no momento graças à Forma da Água, que são as relações interespécies, outras formas de ver gênero e sexo sem demonizar as diferenças. Ela não se deixou cair na familiaridade de usar apenas personagens brancos e héteros, e não teve medo de colocar personagens LGBT em situações de protagonismo.
Outro ponto positivo é a leveza da narrativa, mesmo ao tratar de assuntos pesados. Nem tudo são flores a bordo da Andarilha, e o universo é um lugar cheio de destruição e dor, mas a experiência de ler Uma Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil não é nada pesada ou desgastante, ainda que a real seriedade dos problemas abordados seja passada ao leitor.
Becky Chambers conseguiu mais uma leitora fiel da sua obra, e não vou esperar sair a tradução para adquirir o segundo volume desta série.
Fonte da imagem: http://www.darksidebooks.com.br/a-longa-viagem-a-um-pequeno-planeta-hostil/