Dicas Instantâneas de Copidesque

Como quase todo santo post com conselhos sobre qualquer coisa, devo alertar: eu não sou profissional da área e estou apenas compilando bonitinho em um lugar alguns “truques” que peguei no ar com o tempo, e dicas recebidas ao submeter meus textos para leitura beta e/ou revisão textual.

Repetições

Falo repetições de maneira geral. Estrutura sintáticas, nomes, descritivos. Claro que todo escritor possui uma tendência gravitacional para certos termos e estruturas – caso contrário, todo mundo escreveria do mesmo jeito – entretanto existe um ponto no qual essas repetições param de trazer algo ao texto, como melodia, ritmo ou estilo, e tornam a leitura maçante pela uniformidade.

Frases curtas servem para dar ênfase. Mas repeti-las sem pausa torna a leitura monocórdia. Com o ritmo pausado. Sem mudança de tom. Fica difícil se concentrar. Prefiro arrancar meus olhos. Com um garfo.

Ao passo que frases muito longas são fluidas, entretanto é necessário uma atenção extra para não perder o fio da meada, ou, então, torná-lo impossível de acompanhar; muitas vírgulas, ponto e vírgulas, travessões em uma só sentença unem muitas ideias e tangentes sem um pausa mais definitiva, dando tempo para o leitor respirar, absorver a ideia, e entender o que está acontecendo – sem se perder durante a leitura e sem precisar voltar para ler tudo de novo.

Nem eu lembro qual era meu ponto no início do parágrafo anterior.

Algumas repetições ocorrem porque a princípio são invisíveis: “que”, “mas”, “haver”, “parecer”.  “Que” são conjunções que escrevemos sem notar, e criam um ritmo truncado que dificulta a vida do leitor que está tentando ler o texto. “Mas” é outro exemplo notório; não só o termo em si, mas também a estrutura de antítese.

A solução desse problema exige um pouco de trabalho sim: o de pensar em maneiras alternativas de redigir o texto para manter uma estrutura sintática mais variada. Eliminar os “que” de um texto é pior que tentar matar todas as baratas francesinha de uma casa.  

Locuções (verbais ou não)

Por questões editoriais, orçamentárias ou de bom senso mesmo, em geral o conselho para escritores ao terminar um rascunho é “cortar a gordura”. Isso pode significar cortar cenas ou personagens desnecessários. Nem sempre, porém, essa gordura vai estar na estrutura da história: às vezes ela está na escrita em si, e as locuções são os adipócitos mais comuns.

Como assim?

“Juliana estava andando muito rapidamente pela rua de sua casa” pode se tornar “Juliana andava a passos rápidos pela rua de sua casa”, ou, ainda, “Juliana andava, apressada, pela rua de sua casa”.

A segunda frase diminui os caracteres – o que por si só já é ótimo na hora de contratar serviços editoriais – e na terceira, um termo descritivo fraco de quatro palavras se transforma em uma descrição mais eficiente de apenas duas.

Gerundismos e advérbios de modo podem ser eliminados pela conjugação correta do verbo e utilização de verbos mais descritivos.

Continuando a história da Juliana:

“Juliana andava apressada pela rua de sua casa, pois havia esquecido de retirar o frango do congelador” se torna “Juliana andava apressada pela rua de sua casa, pois esquecera o frango no congelador.”

As conjunções que mais vi em textos não editados (meus, inclusive) contém o verbo haver. Na maioria das vezes, ele é inútil e é fácil substituí-lo por um verbo só no tempo verbal adequado para a situação.

Ler em voz alta (ou só ler)

Copidesque nem sempre tem a ver com número de palavras ou de caracteres. Eliminar cacofonias e frases sem boa sonoridade é um dos objetivos, e uma das maneiras de identificar tais coisas é mesmo ler, em especial depois de refrescar os olhos com uma pausa de alguns dias (ou meses, ou anos, quem sou eu para julgar).

Depois de passar uns dias sem ler esse post, você pode achar que “Juliana andava apressada pela rua, rumo à sua casa, pois esquecera o frango no congelador.” soa bem melhor, apesar de ter mais caracteres.

Obs.: Passei dias ruminando essa frase e ainda não tenho certeza se deve ter vírgulas antes e depois de “apressada”. Ainda bem que esse é um post de copidesque e não de revisão textual.

Ferramentas úteis de copidesque

Existem duas ferramentas úteis na hora de limpar o texto: a ferramenta busca do Word, e o Google.

A ferramenta busca do Word pode encontrar num instante todas instâncias de repetição, e dá para pular de uma para outra. Torna o trabalho de identificar onde estão todas as repetições bem mais fácil. Facilita também checar se o número de vezes que um personagem revirou os olhos está dentro do aceitável.

Google serve para buscar sinônimos e outros termos mais adequados. Como falei, um verbo descritivo às vezes ocupa muito bem o lugar de uma conjunção verbal enorme. E ninguém tem um dicionário inteiro na ponta da língua. Consultar um dicionário nessas horas serve de inspiração e lembrete de outros verbos que talvez estejam enterrados muito fundo no baú da alfabetização.

Só alerto para não acabar substituindo verbos simples por outros muito rebuscados: isso resolve um problema e cria outro.

E como sempre digo: buscar um segundo par de olhos é o ideal para identificar esses problemas. É difícil para o autor do texto fazê-lo sem ajuda.

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