All Systems Red – Diários De Uma Máquina de Matar Viciada Em Série

All Systems Red é uma novela de ficção científica, escrita por Martha Wells, primeira de uma série de novelas intitulada de The Murderbot Diaries. Infelizmente ainda não está disponível em português, mas devido ao sucesso da série, não deve demorar para alguma editora brasileira publicar uma tradução. Por enquanto, dá para ler em inglês na Amazon.

Apesar de eu ter uma preferência por ficção científica menos tecnicista, obras estreladas por inteligências artificiais, robôs malignos, e afins também são do meu agrado (como, por exemplo, Eu, Robô, do Isaac Asimov).

Em All Systems Red, o protagonista é um ser meio orgânico, meio mecânico, totalizando um ser confuso e sem rumo. Ele hackeou as partes de seu código que o forçava a obedecer às ordens de seus donos, e, podendo fazer o que bem entendesse, preferia ficar sozinho em um canto assistindo série. Assim nasceu o ser que se chama Murderbot.  

Os planos de Murderbot de assistir série até o fim dos tempos não dão muito certo porque ele não pode deixar ninguém saber que ele se tornara um ser livre: o plano é trabalhar e agir normalmente, mas uma missão o força a sair do casulo que construíra para si.

A história é sobre Murderbot encontrando sua liberdade, se entendendo e sendo visto como uma pessoa, apesar de não ser humano.

Capa da novela

Dito isto, a obra não é tão filosófica quanto estou fazendo parecer com minha descrição. A leitura é bem-humorada acima de tudo, mesmo nos momentos de ação. A narrativa é leve por não se demorar nas questões éticas levantadas pela própria premissa, e isso não é um problema. All Systems Red não tem nenhuma pretensão de discorrer profundamente sobre esse tema, nem sobre nenhum tema, sendo primariamente uma leitura de entretenimento.

Apesar de escrever uma obra despretensiosa, Martha Wells caprichou na execução mesmo assim. O formato de novela não nos dá tempo de conhecer tão a fundo todo o elenco – ainda mais quando o protagonista e narrador não se importa, a princípio – entretanto Martha consegue construir personagens interessantes e descrições imersivas.

De modo geral, minha única ressalva em relação ao texto é o número um pouco excessivo de personagens secundários. Para além da dificuldade imposta pela personalidade do próprio narrador, a quantidade em si de personagens dificulta conhecê-los melhor. Murderbot e sua humana favorita carregam a história muito bem, entretanto a narrativa se beneficiaria com a presença de outros personagens igualmente fortes.  

O aspecto mais interessante da história é a fuga do lugar comum. Murderbot não tem gênero definido e nem sente atração sexual/romântica. O enredo tem suas cenas de combate e ação, mas não é militarista. Foca nas relações entre os personagens, porém não nos relacionamentos românticos monogâmicos heterossexuais.  

Ocorre em um mundo com tecnologia avançada, que ao invés de servir como resolução mágica para conflitos, causa mais complicações no enredo por falhar múltiplas vezes. E, apesar de aparentemente ocorrer em um cenário onde a humanidade se tornou uma organização só, não acontece de todos os personagens serem magicamente brancos.

Acho que há uma associação muito forte entre literatura de entretenimento e literatura que reproduz os mesmos tropos desgastados, sem representatividade e sem apresentar questões interessantes, mas All Systems Red é um bom ponto fora dessa curva.

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