Crema – Café e Uma História de Amor

Crema é um quadrinho roteirizado por Johnnie Christmas e ilustrado por Dante Luiz, e publicado pela ComiXology mais cedo este ano (disponível aqui, ainda sem tradução para português brasileiro).

No quadrinho, acompanhamos a história de Esme, a barista de um café, que pode falar com espíritos quando toma café demais, e Yara, a herdeira de uma plantação de café do Brasil. É também sobre um fantasma amargurado e uma fazenda de café em declínio. É também uma história de amor.

Capa da obra

Eu só fiz resenha de quadrinho uma outra vez aqui neste site, então vamos lá.  

Primeiro, claro, tenho que dar um biscoito pelo estilo da ilustração e não é só porque eu gosto pessoalmente do ilustrador. Eu não sei comentar sobre estilo de ilustração porque não leio muito quadrinho, mas só queria dizer que achei o traço muito bonito e cheio de personalidade, e casou muito bem com a atmosfera paranormal da história e a ambientação.

Agora, passando para a história, que eu posso elaborar mais do que apenas “tá lindo, parabéns”:

A ambientação por si só é um dos pontos fortes da trama. Uma parte de Crema se passa em um café em Nova Iorque, enquanto outra parte se passa em uma cidadezinha fictícia no interior de Minas Gerais e na fazenda de café da família de Yara. A obra tem, portanto, uma paleta interessante de “panos de fundo”.

Um outro ponto importante é que a narrativa se utiliza bem de todos os personagens e dos ambientes, entrelaçando bem todos os subenredos: o romance entre Yara e Esme, o problema do fantasma e o problema da fazenda. Ao final, todas essas tramas se reúnem em um final extremamente satisfatório.

O terceiro aspecto legal é como a história lida com o paranormal, fazendo da trama algo mais puxado para o realismo mágico do que para o especulativo, pois os aspectos sobrenaturais são tratados com certa naturalidade pelos personagens. Ao final, temos também uma pitada de horror, conforme o fio sobrenatural da história chega ao seu ápice.

E, claro, como não poderia deixar de ser, o subenredo romântico entre Yara e Esme é um dos pontos positivos desta obra, em especial por ser “curto e grosso”, simples e direto. Sim, existem as problemáticas da vida real em um romance entre mulheres, mas é sempre bom ver uma representação positiva, cujo conflito principal não reside em lesbofobia ou bifobia e onde as personagens não ficam “pisando em ovos” para desenvolver a relação. As questões entre Yara e Esme são outras.

Por último, claro, eu devo fazer uma ressalva em relação a Crema.

O enredo se utiliza muito de flashbacks durante o andamento da história para repassar informações sobre eventos anteriores ao presente da narrativa. Eles são muito frequentes e muito extensos, fazendo por vezes o leitor perder o fio da meada em relação ao presente da narrativa. Acredito que o roteiro teria se beneficiado em dividir a história em uma linha do tempo passada e uma linha do tempo presente, onde acompanharíamos as duas narrativas e então veríamos, ao fim, como elas se complementam.

Mas, fora isso, Crema é uma leitura excelente, rápida e divertida.

E gay.

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