Filhos de Sangue E Outras Histórias

Filhos de Sangue e Outras Histórias, escrito pela Octavia E. Butler, foi publicado aqui no Brasil mais cedo este ano pela Editora Morro Branco, e traduzido para o português pela Heci Regina Candim (disponível aqui). Essa obra é um compilado de contos e ensaios pela autora, Octavia, lidando com temas como amor, escrita, família e simbiose.

Falando do livro como um todo, o ponto mais interessante sobre ele é o toque pessoal da autora durante toda a obra, por meio das notas após os contos. Apesar de eu ser grande partidária da morte do autor, achei super interessante saber de onde vieram os contos, de onde Octavia E. Butler se inspirou, e o que ela quis dizer com os contos.

Nessa mesma veia, foi interessantíssimo, como escritora, ler os ensaios autobiográficos da Octavia, e sua trajetória enquanto autora. Não só vemos a trajetória de vida dela, como também recebemos, de quebra, algumas dicas de escrita da dama da ficção científica.

Já os contos do Filhos de Sangue e Outras Histórias são, na maioria, especulativos, e cada um apresenta um tema ou uma questão diferente, a serem explorados melhor pelas notas da autora ou, ainda, pelas questões de discussão ao final do livro — um toque interessante das edições da Morro Branco.

Capa da obra

O livro abre com o conto do título, Filhos de Sangue, que apresenta uma discussão interessante: e se homens cis engravidassem? Nele, acompanhamos Gan, um rapaz que está às voltas com a perspectiva de ser inoculado por uma T’Gatoi para gerar outros que nem ela. O conto, que acabou sendo um dos meus favoritos desse livro pela mistura de horror com ficção científica, discute simbiose e liberdade reprodutiva. Tal como na saga Xenogênese (também publicada pela Editora Morro Branco), os aliens em questão são criaturas que dão muito o que pensar.

O meu outro conto favorito deste livro foi Os Sons da Fala, disponível para ler gratuitamente pelo Projeto Cápsula da Editora Morro Branco, mas que também está nesse livro. A protagonista da história é Rye, uma mulher que está em busca de si mesma após perder o que lhe era mais caro: saber ler e escrever. Uma doença se alastrou pelos Estados Unidos, e quem sobrevivia ou ficava sem conseguir falar ou sem conseguir ler. Um ponto interessante dele é de quase não ter diálogo, e um outro ponto interessante é explorar como se comunicar é um pilar essencial para a cultura humana no geral.

Por último, mas não menos importante, gostaria de comentar sobre o conto Anistia, um conto que me atraiu porque eu não consigo não me interessar por aliens moralmente dúbios. A chegada de um grupo de aliens em regiões desérticas da Terra causam um colapso econômico, e esses tais aliens — chamados de Comunidades — são imbatíveis e fazem experimentos em seres humanos, ao mesmo tempo que são viciados em contato humano. Em Anistia, acompanhamos Jane enquanto ela tenta fazer uma ponte entre as Comunidades e um grupo de humanos desconfiados que, no entanto, estão participando de uma entrevista de emprego para trabalhar para essas Comunidades. Se este conto tem algum defeito, é de ter exposições muito longas, mas, de modo geral, é uma história intrigante por explorar temas como moralidade e medo do desconhecido.

Em suma, o saldo geral de Filhos de Sangue e Outras Histórias foi bastante positivo: é uma excelente porta para conhecer mais sobre a obra da Octavia, sua vida, sua trajetória e suas fontes de inspiração sem, entretanto, ser somente para os fãs da autora. E é uma leitura interessante também para quem escreve, por falar sobre escrita criativa e a carreira de escritora.

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