Os Três Piores Deslizes De Edição

Eu já cheguei a falar aqui no site sobre a “linha de produção” pela qual uma obra deve idealmente passar antes de chegar nas livrarias. E não deve ser novidade para quem acompanha meu canal que não necessariamente um livro já publicado recebeu a atenção que deveria…

Decidi então compilar os deslizes mais graves em obras publicadas, pois deve ser uma ferramenta útil para quem resenha livros e/ou faz leitura beta e/ou escreve. Com o disclaimer, claro, que não possuo formação na área e estou falando do ponto de vista de uma leitora. Uma leitora bem exigente, mas uma leitora.

                Repetição

Aqui falo não somente de repetição de palavras, mas também de construções sintáticas. Termos repetidos e estruturas repetidas sem deliberação torna a leitura maçante e o ritmo, truncado. É também o mais comum de acontecer em um manuscrito: falando como escritora, é muito fácil cegar para repetições. Esse post vai estar cheio delas.

Considero esse um deslize menor em obras independentes sem edição profissional, entretanto é um erro seríssimo em obras que foram editadas. Justamente por ser recorrente, é para ser a primeira coisa a qual um editor deveria prestar atenção.

Coloquei esse tópico primeiro porque em geral é um péssimo presságio. Se uma obra passou por um editor, e ainda assim restaram muitas repetições, muito provavelmente ele também não corrigiu outros problemas mais sérios. Em contrapartida, já li vária obras autopublicadas de excelente qualidade, cujo único ponto fraco era mesmo os termos utilizados em demasia.

                Infodumping

Tal como repetições, o infodumping é quase que onipresente em manuscritos dos gêneros especulativos. Histórias dentro desses gêneros exigem uma ambientação mais extensa, sim, e é muito fácil errar a mão. Em geral, para mais. O que é compreensível: o autor deseja compartilhar o máximo possível de seu universo fictício, claro.

Entretanto, cabe a um editor – ou um leitor beta atento – perceber até que ponto a informação é relevante e/ou interessante, e quando começa a ser dispensável e mesmo irritante para leitores que não sejam o autor. Em especial no começo, o leitor dificilmente está investido o suficiente para querer saber aquela história engraçada do tio-avô de segundo grau do protagonista.

Outra faceta do infodumping é o volume de informações e a velocidade que elas são expostas dentro da narrativa. É bem rotineiro os autores escreverem um início lentíssimo para suas histórias por colocar todas as informações relevantes ali, tornando necessária uma reorganização de onde e quando tudo isso é posto na página.

Imagem ilustrativa dos editores de certas obras que li

                Problemas no Ritmo

Via de regra, dentro de uma trama, demora-se mais tempo no que é mais importante – e menos tempo no que é menos importante. Entretanto, não é bem assim que acontece em boa parte dos manuscritos.

Novamente, falando como escritora, entendo de onde isso vem. Às vezes é difícil notar o que é de fato importante dentro da narrativa antes de concluí-la. Como já falei na parte do infodumping, também é fácil ceder a tentação de gastar muitas páginas ambientando o leitor na situação inicial e acelerar demais o passo durante o conflito final.

Mas o ritmo correto é essencial para uma boa história. Um conflito grande que se resolve em poucas páginas é incoerente; e demorar-se em aspectos pouco relevantes para o objetivo da obra (que pode ou não ser a resolução do conflito, afinal), também.

                Dois pesos, duas medidas

Se eu ler um manuscrito que tem esses três deslizes, é bem capaz de eu ainda achar uma leitura boa. Se eu ver tudo isso em uma obra publicada com equipe editorial completa… Nem tanto. Um autor sozinho, a não ser que ele possua excelentes leitores beta, não é de fato capaz de notar e consertar todos esses problemas, mas é o básico do básico a ser visto por um editor.

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