O Auto da Maga Josefa – Causos Fantásticos do Sertão Nordestino

O Auto da Maga Josefa é uma noveleta fantástica, escrita por Paola Siviero e publicada pela Editora Dame Blanche em formato digital, na Amazon.

Nela, acompanhamos os causos do Toninho caçador e uma companheira no mínimo improvável: magas são criaturas poderosas, filhas do sete-peles com mulheres humanas, cujas almas estão condenadas, automaticamente, ao inferno. Então por que Josefa, uma maga, decide acompanhar Toninho em suas aventuras pelo sertão nordestino?

É a pergunta que acompanha toda a narrativa, um compilado de histórias curtas sobre as diversas caçadas de Toninho e Josefa, que fazem parte de um arco narrativo maior. Nesse sentido, a estrutura narrativa da novela se assemelha a um cordel.

Toninho, o caçador, aprende que pau torto pode se endireitar, e que para resolver um problema, nem sempre a saída é matar o monstro, como ele estivera acostumado a fazer antes de conhecer Josefa. A própria Josefa, uma mulher solitária, vai aos poucos se abrindo e aprendendo a trabalhar em equipe.

As releituras de criaturas fantásticas já estabelecidas consegue equilibrar a cultura nordestina à fantasia mais popular, tornando o bestiário familiar à maioria dos leitores – eu que sou nordestina me senti em casa. E há inclusive um toque de ficção científica na história. Vampiros, aliens, golems… Tem de tudo.

A escrita é um dos pontos mais fortes d’O Auto da Maga Josefa: a autora conseguiu reproduzir o vocabulário e o humor nordestino, não só nas falas dos personagens, mas também na narração, criando assim uma atmosfera envolvente durante a leitura.

Seguindo para os pontos fracos (embora eu tenha amado a leitura), hora ou outra na história a atmosfera da narrativa se quebrava.

A declaração de Josefa sobre ser pansexual foi fora de tom. Em momento algum vemos qualquer indício de ela se sentir atraída por mulheres, e sua declaração veio em relação ao seu relacionamento com um lobisomem – que era um homem humano comum em todas as horas, menos as de lua cheia.

É algo que aparece na história e logo depois vai embora, sem prelúdio nem consequência alguma. Não que Josefa precisasse ter se relacionado com alguma mulher (ou outros gêneros) durante a obra, mas se a história foi quebrada e um parágrafo inteiro foi dedicado a informar o leitor disso, é natural que se espere alguma manifestação dessa informação. Não foi o caso.

O arco narrativo da maga me decepcionou, apesar de não ter me tirado a boa experiência. O problema, que parecia ser algo bem estabelecido, foi resolvido de maneira muito simples e rápida, embora criativa. Para além disso, cancelou todo o desenvolvimento em relação ao altruísmo dela, pois tudo foi, ultimamente, por um motivo egoísta: para salvar sua alma do inferno.

Mas, no geral, o saldo de O Auto da Maga Josefa foi altamente positivo. É uma leitura divertida e bastante única, por escolher como cenário o sertão nordestino, um lugar pouco explorado pela fantasia nacional.

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