Cantigas No Escuro – Cantigas Para Não Dormir

Cantigas no Escuro é uma antologia de contos, disponível na Amazon, e todos os contos presentes nela são baseados em alguma ciranda de roda ou cantiga para dormir, o que é irônico, porque os contos são de terror/ horror.

Essa antologia pode estar, em breve, no formato físico, se a campanha de financiamento coletivo der certo; você pode contribuir nesse link aqui.

Antes de comentar um pouco sobre cada conto, o ponto positivo da coletânea no geral foi o da representatividade. Já falei algumas vezes que, quando se fala de representatividade, os personagens tendem a ser uma “coisa” de cada vez (ou é mulher, ou é de outra etnia que não branca, ou é LGBT+) e a maioria das protagonistas dessa antologia tendem a encarnar várias “coisas” de uma vez só.

Não tenho, também, nada a reclamar da escrita, salvo alguns pequenos erros de edição.

Segue, em anexo, meu comentário em relação aos contos:

Diga adeus e vá-se embora, Jana Bianchi

Esse conto é sobre um grupo de crianças que encontram um artefato amaldiçoado durante as férias no sítio de seus avós. O terror fica por conta do que está encerrado dentro desse artefato – e de como se livrar dele.

Dentre todos, esse é um dos mais assustadores, e isso se deve ao fato da narrativa não poupar as crianças.

Na beira do rio, Iris Figuereido

A ciranda que inspirou a autora é a do tororó.

Mais uma vez, o conto ambienta-se em um sítio. Maria é convidada para passar um tempo no sítio de parentes de sua amiga Teresa, onde existe um quadro de uma jovem, que não é um objeto tão inanimado quanto deveria ser, e, juntas, as amigas devem resolver o mistério da morena no quadro.

A relação da narrativa com os versinhos da ciranda é bem interessante, e o subenredo romântico vem em bom tom, algo que quase nunca escrevo aqui no site.

Juro que te amo, Solaine Chioro

Esse foi o que deu o maior gelo na minha espinha.

A ciranda da vez é “se essa rua fosse minha”. Luciana e Leonora são irmãs, e, em uma volta para casa tarde da noite, se deparam com uma rua ladrilhada de brilhantes, guiando-as para um bosque abandonado da sua infância.

Sobre o horror dessa história: a interpretação de roubar coração foi bem literal. Gostamos.

Escamas de espinhos, Gabriela Martins

A ciranda do Cravo e da Rosa naturalmente levaria a um conto sobre um relacionamento abusivo. No caso, acompanhamos Tábata em seu envolvimento nada saudável com Sérgio – e a sua resposta ao abuso.

Esse foi o conto que menos me agradou, devido ao meu gosto pessoal. A parte de horror da trama me pareceu surreal demais para ter o impacto esperado.

Dourado, Emily de Moura

Em Dourado, Beca, Nadine e Rosa são as únicas jovens em uma festa na fazenda, e decidem dar uma volta, onde encontram um campo de alecrins dourados, não tão bucólico quanto parecia à princípio.

É um bom conto, mas a relação da ciranda com a narrativa foi um pouco fraca.

Algo teu, Lauren Pohl

Quem diria que a ciranda da batatinha quando nasce daria uma história tão boa.

Marília é uma garota tímida e pouco popular na escola, que é desafiada a ir numa cabana dita mal-assombrada e pegar uma batata. Sem querer parecer fraca, descobre que os rumores eram mais verdadeiros que imaginava.

Apesar de ser o meu conto favorito da coletânea, ele não tem tanto assim de horror porque não morreu ninguém que não merecia ter morrido. Eu comemorei um pouco ao terminar de ler, confesso.

No geral, o saldo de Cantigas no Escuro foi altamente positivo e, para quem gosta de terror, vale a pena a leitura.

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