Manual do Leitor Chato – Como Melhorar A Leitura Crítica

Devo começar esse post com um disclaimer: nem todo leitor é obrigado a ser superexigente com suas leituras e ser capaz de destroçar um texto. Muita gente lê por diversão e tudo bem (se bem que a minha diversão é destroçar um texto rs).

Falando sério agora, adquirir um olho mais atento para leituras é uma habilidade bastante útil para quem deseja escrever bem. Arrisco a dizer que não há uma sem a outra – afinal o que é escrever bem se não ser capaz de avaliar e melhorar o próprio texto? Até mesmo estritamente do ponto de vista de um leitor, ser capaz de realizar uma leitura mais crítica significa ser capaz de entender mais e melhor as obras.

Como eu gravei e editei um vídeo antes de notar que isso seria melhor no site, esse post também tem no formato de vídeo.

  • Ler obras diversas

Pulando o conselho número 1 que todo mundo conhece, que é ler muito, uma das formas principais de afiar o olho é ler em uma quantidade boa de gêneros e de estilos, e não ficar apenas na zona de conforto de leitura. Isso forma uma boa base de comparação, e também ajuda do entendimento de que não existe uma forma certa de escrever. Diferentes histórias de diferentes gêneros e estilos tem exigências diferentes, objetivos diferentes. Só se percebe isso com clareza ao ler um amplo leque de obras.

  • Ler obras boas

Mas não só ler: a parte importante é entender o porquê de elas serem boas. O que as faz funcionar?

  • Ler obras ruins

Aqui vale a mesma coisa que eu disse para as obras boas. O que sobre essas obras ruins não funciona?  

Ilustração da minha pessoa lendo livro
  • Ler obras ruins que você gosta, e obras boas que você não gosta

Esse é um exercício em separar gosto pessoal de qualidade literária: algo importante para saber avaliar com um olhar mais imparcial, e para não perder a cabeça odiando todos os livros favoritos da estante. Todo mundo tem aquele livro ruim, que foi mal escrito e mal editado, que por algum acaso é muito gostoso de ler. Ou aquele livro ótimo que não dá certo a leitura.  

Ainda que não exista 100% de objetividade em uma análise literária – gosto pessoal sempre vai entrar no meio, em algum nível –, o ideal é saber diferenciar entre livros bons, e os livros que agradam o paladar, assim como o contrário.

  • Ler análises e resenhas de outras pessoas

Esse é um dos passos mais importantes, em especial para quem já não trabalha com literatura. Eu, por exemplo, não tenho tanto acesso a material falando sobre análise literária, mas ler análises, essays discutindo pontos e questões de certas obras, resenhas e tudo mais dá uma chance de ver a coisa na prática e ir aprendendo aos trancos e barrancos.

Para obras mais populares e anglófonas, o SparkNotes é uma excelente ferramenta. O site não possui resenhas propriamente ditas, e sim sumários em relação a temas, arcos narrativos e etc; saber retirar isso de um texto é o primeiro passo em analisá-lo.

  • Entender o mínimo de teoria

Apesar de tudo que disse até o momento, em verdade não há como se chegar muito longe sem uma carga teórica mínima. Por exemplo, quão bom um leitor crítico pode ser sem conhecer os diferentes tipos de narrador e um entendimento básico de como eles funcionam?

  • Criticar o trabalho de outras pessoas

Fazer leitura beta e leitura crítica é um exercício bem mais interessante do que ler livros que já foram editados (embora eu deva dizer que, para esse fim, alguns livros publicados aqui no Brasil servem rs), porque estes são rascunhos e não obras prontas. Em geral, tem muito mais a ser apontado e ponderado nessas leituras, portanto é um bom exercício para o músculo do olho.

  • Ter o seu trabalho criticado

Tá, talvez isso só se aplique aos escritores. Mas o fato é que não perceber as falhas do próprio texto é algo bem comum, e o propósito de receber críticas em seus textos é bem parecido com o de ler resenhas de outras pessoas: a diferença é que o texto sendo analisado foi autorado por você.

Como um último conselho, acredito eu que um bom leitor também sabe desligar tudo isso e apenas aproveitar uma história. É saudável desligar o cérebro para ler, de vez em quando.

Outro ponto a ser considerado é que mudança de gosto é natural, em especial conforme se percebe mais elementos do texto; é importante respeitar isso, mesmo que signifique abandonar obras e gêneros queridos.

Se tornar um leitor mais crítico não é se tornar um leitor infeliz.

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