Deveria existir um termo super específico em alemão para o sentimento inconfundível de “Isto Foi Escrito Por Um Homem Hétero”. Mas, afinal, o que deixa dolorosamente claro que um homem hétero escreveu uma obra?
É o que vamos descobrir.
- O protagonista é um homem hétero
Esse é bem fácil. Graças ao androcentrismo heterossexual da sociedade em que vivemos, é difícil para um autor hétero imaginar os dramas e conflitos mais íntimos de uma pessoa que não seja… Um homem hétero. No máximo, ao invés de homem, o autor escreve sobre um adolescente ou um garoto (que se não é, será hétero quando crescer).
Claro, autoras também escrevem protagonistas masculinos e heterossexuais, mas este é o primeiro indício de que algo de errado não está certo.
- O protagonista é foda
Abertamente ou não, o protagonista do Autor Homem Hétero será foda. Se ele é uma pessoa normal, comum, na média, deverá descobrir seus poderes e habilidades secretos ao longo da narrativa, se já não souber deles no início da história.
Em geral, porém, o protagonista já inicia sendo Muito Pica. Sério. Muito Pica das Galáxias Mesmo. Sem nenhuma correlação com ser uma fantasia de poder masculino. Nada a ver.
- O protagonista é muito macho
Ele acorda, escova os dentes com uísque, coloca sua jaqueta de couro surrada e sai com sua Harley Davidson em direção ao sol nascente. Ou então ele coloca cerveja no seu cereal e faz a barba de três dias com uma motosserra elétrica. Não importa.
O que importa é deixar bem claro que não só o protagonista é hétero para um caralho, ele também é macho. Nada de sensibilidade e sentimentos aqui.
(O autor, naturalmente, se esquece que raiva é um sentimento, pois qualquer arroubo de emoção vindo do protagonista “estoico” é apenas lógico e sem correlação alguma com o emocional.)
- O antagonista já não é tanto assim…
Às vezes, o antagonista é até uma mulher. De forma geral, serve como contraste para o protagonista Muito Macho Mesmo, então, se for homem, tende a ser afeminado, ou até mesmo abertamente gay ou bissexual.
Porque se ser macho é bom, não ser macho é ruim.
- Cardápio variado de personagens femininas
As opções de personagens femininas são várias em uma história escrita por um Homem Hétero: a esposa morta a muito tempo, a esposa ou parceira que morre no começo da narrativa, a esposa ou parceira que é sequestrada ou violentada, a filha ou irmã que é sequestrada e violentada, a parceira de negócios super habilidosa que é sequestrada, ou violentada, ou morre, ou transa com o protagonista, a personagem secundária inútil que é sequestrada, ou violentada, ou morre, ou transa com o protagonista…
Tem uma para todos os gostos do autor heterossexual, contanto que elas não tenham um arco narrativo independente e contribuam com a história apenas com seu sofrimento e vitimização. Isso, claro, após transar ou, no mínimo, querer transar com o protagonista.
- Falando em transar com o protagonista…
Todo mundo quer transar com ele. Não importa se é uma infecção mortal (sério, eu li isso uma vez), ou uma sidekick nova demais, ou duas mulheres heterossexuais que dividem o desejado protagonista em um ménage (ignorando a realidade que nem um homem hétero inteiro satisfaz mesmo uma mulher, imagina só metade de um). O cerne é deixar bem estabelecido para o leitor que o autor – ops, protagonista – tem um sex appeal irresistível e poderia comer quem e quantas quiser, mesmo sem ter trocado a blusa a três dias.
Porque higiene básica e melhorar a aparência não é coisa de homem macho.
Se essa lista inteira girou em torno do personagem principal, é porque todas as coisas giram. Afinal, o personagem principal de uma obra escrita por um homem hétero de maneira alguma é uma projeção fantasiosa e apelona do autor.
Imagina.