Analisando Textos (Ou Como Passar A Peixeira)

Começo esse post com o disclaimer de sempre: estou falando apenas da maneira como eu opero. Sim, eu trabalho com leitura crítica e faço resenhas cabulosas, mas sempre há espaço para melhora. Proceda com cautela.

Uma pergunta que ninguém me fez, mas eu vou responder nesse post, é acerca do meu modus operandi na hora de analisar um texto.

Primeiro, acho que o mais importante é ter o mínimo de “bagagem”, quanto mais diversificada melhor, no sentido de ter lido livros de vários gêneros, estéticas, para várias faixas etárias. A outra “bagagem” é conhecimento teórico sobre construção de narrativas. Não tem como você avaliar se um narrador de uma dada história está mal construído ou não sem saber como os narradores devem funcionar (o que já aconteceu comigo).

Segundo, eu parto muito do entendimento — inadvertidamente seguindo os preceitos do Wonderbook — que uma história é mais do que a soma das suas partes; afinal, estas partes se relacionam com as outras formando um “ser vivo”, ser vivo este que pode ou não funcionar bem. Mas para decidir se funciona bem ou não, vale a pena perguntar: qual o objetivo desse texto?

Para mim, não faz muito sentido julgar uma obra cujo objetivo é ser um romance água com açúcar, uma leitura rápida, por outros parâmetros senão: este romance água com açúcar é um bom romance água com açúcar? E um bom romance água com açúcar não será um bom horror, ou uma boa fantasia épica medieval, nem terá pretensões de debater questões existenciais humanas. Da mesma forma: este horror é um bom horror? Esta fantasia medieval é uma boa fantasia medieval?

Esta é uma distinção muito importante, porque algo que é muito errado para uma obra pode ser muito certo para outra, e algo que eu não goste pessoalmente pode funcionar bem (mesmo que não atenda aos meus gostos pessoais) por causa do contexto e do objetivo da obra.

Imagem meramente ilustrativa

Com isso em mente, é hora de começar a dissecar o texto. Eu o separo em 5 partes:

  • Estética
  • Enredo (e subenredos)
  • Personagens
  • Worldbuilding
  • Ritmo

Em verdade, é impossível separar essas partes totalmente uma da outra, mas convencionar essa separação me ajudou a saber o que procurar, de certo e de errado. Para cada tópico, tenho uma série de perguntas para responder.

Estética: O texto é agradável de ler? Existem cacofonias, frases sem sentido ou difíceis de entender? Existem muitas palavras ou termos repetidos? As frases e parágrafos são coerentes e coesos? As descrições são vívidas quando precisam ser vívidas, secas quanto precisam ser secas? A mecânica do narrador funciona levando em consideração todos os outros aspectos da narrativa?

Enredo (e subenredos): Quais são os eventos principais do enredo? Eles fazem sentido em relação ao worldbuilding, ritmo e personagens? Os subenredos se integram bem ao enredo principal, ou são supérfluos, redundantes, não vão a lugar nenhum? A sequência de eventos é compatível com o objetivo da história?

Personagens: Os personagens que precisam ser complexos e multifacetados (como os protagonistas e os personagens majoritários) são complexos e multifacetados? Existem personagens demais, ou seja, existem personagens que não agregam em nada ou são subdesenvolvidos? Existem personagens de menos? A caracterização e desenvolvimento dos personagens casa com o enredo, worldbuilding e o ritmo?

Worldbuilding: A história tem informação demais? Informação de menos? A informação é inserida em um ritmo agradável, nos momentos relevantes? Ou não? O que é estabelecido pelo worldbuilding faz sentido, considerando o contexto da história?

Ritmo: O ritmo é bem balanceado durante a narrativa? Ele se demora no que precisa se demorar? Ou se demora no que não precisa e passa rápido pelo o que é essencial para a construção dos personagens e do enredo? Ele dá a importância devida aos diversos elementos considerando o que é relevante para a narrativa?

Provavelmente existem perguntas pertinentes que não coloquei aqui, pois, como disse, ainda tenho o que aprender. Talvez depois eu decida que algum dos pontos que levantei aqui não importam tanto.

Mas o fato é que responder todas essas perguntas fica infinitamente mais fácil com prática, experiência, leitura e conhecimento teórico.

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