O Que É Relevante Para A Narrativa?

Afinal, que informações e cenas devem ser colocadas em uma história? O que é relevante e o que é desnecessário para a construção de uma narrativa? Boa sorte descobrindo, porque varia muito a cada caso, mas, do meu ponto de vista de leitora chata, existem algumas orientações úteis para elucidar a questão.

Primeiro, é necessário diferenciar entre o que é relevante para o enredo e relevante para a narrativa. Esses dois termos às vezes são utilizados como equivalentes, porém a narrativa compreende algo mais abrangente do que apenas o enredo; pois, afinal, não é só de enredo que vive uma boa história.

Quero começar com essa diferenciação porque, a princípio, é interessante compreender que uma narrativa bem construída não conta só com um enredo compreensível. Conta também com personagens carismáticos, cenários imersivos e descrições vívidas, de modo que a relevância de informações, cenas e descrições para uma obra deve levar isso em consideração.

Mas, sim, primeiramente: é relevante para a narrativa toda e qualquer informação, cena e descrição que leve o leitor a compreender o enredo. Escorregar nesse ponto a um nível mais severo significa que a história ficará incompreensível; a um nível mais leve, fica transparente no texto que alguns eventos só ocorreram porque o autor quis (isso é sempre verdade, contudo o objetivo é não deixar o leitor perceber).

O gênero da obra e público alvo contam bastante na hora de decidir. Afinal, mesmo que a história tenha um arco narrativo épico sobre batalhas, morte e sangue, se o gênero for romance, não é isso que vai importar para o leitor. E se for uma narrativa para um público mais jovem, colocar cenas gráficas de sexo e uso de drogas não é interessante, mesmo que a história aborde esses temas.

Em última instância, o que é relevante para uma obra é o que vai enriquecer a experiência de leitura, não só no que tange a mínima compreensão do enredo. O que vai fazer o cenário mais imersivo? As reviravoltas mais impactantes emocionalmente? Que aspectos dos personagens irão influenciar positivamente a experiência de ler a obra?

E nesse processo de decisão, é interessante lembrar que o leitor pode muito bem preencher algumas lacunas, ou seja, inferir certas coisas, sejam elas informações ou descrições. Nem tudo precisa ser explicado aos mínimos detalhes. O leitor possui algum nível de inteligência e é capaz de juntar certos pontos. Por que não gastar mais palavras com aquilo que ele não pode inferir ou aquilo que, partindo do senso comum, ele não seria capaz de inferir corretamente?

Outro ponto a ser observado é o respeito a cronologia da narrativa. Às vezes, certos elementos se tornam relevantes apenas quando o enredo avança, e inseri-los fora da zona de relevância podem deixar a obra truncada, com o ritmo lento, ou até mesmo confusa.

A última observação quando se fala de relevância é que ela não diz respeito ao autor, e sim ao leitor. O autor pode achar legal inserir diversas informações sobre o protagonista no início da história, mas o leitor, que acabou de começar a ler e não teve tempo de se interessar pelo protagonista, vai achar legal também? Nem a pau.

Em outras palavras, alguns elementos só são relevantes se você presumir que o leitor está tão interessado no cenário e nos personagens quanto o próprio autor, e raramente é esse o caso. A maioria dos leitores só quer ler uma boa história.

Por último, uma segunda opinião pode ajudar e muito na hora de escolher o que vai e o que fica, pois, como acabei de falar, nem todo mundo vai ter o mesmo interesse do autor, e pode ser difícil para o autor, que afinal vive apenas na sua própria cabeça, dosar entre o que melhora a experiência da leitura e o que apenas é informação demais. Um amigo com bom senso ajuda nessas ocasiões.

E, se nada der certo, ao menos dá para colocar os infodumps no Twitter. Ou abrir uma conta secreta no Wattpad e postar todas as cenas descartadas como se fossem fanfic.

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