O Homem Invisível

O Homem Invisível, obra do H.G. Wells publicada em partes na Pearson’s Weekly, falava de um cientista, Griffin, que estudava ótica e conseguiu uma maneira de modificar o índice refração do corpo para ficar igual a do ar, tornando-o, como diz o título, invisível. A história ganha uma roupagem mais atual em O Homem Invisível. O filme, no caso. Lançou ainda agorinha no Brasil. É dele que vamos falar nesse post.

É raro, mas de vez em quando eu resenho um filme por aqui, e O Homem Invisível com certeza tornou-se um dos meus filmes favoritos, junto com Barbie e as 12 Princesas Bailarinas e Sharknado.

Ao invés de focar no homem em si, a história é sobre Cecilia, uma moça que teve o azar de cruzar caminho com Adrian Griffin e entrar em um relacionamento com ele. Grande nome na pesquisa de ótica, ele também era um sociopata narcisista do caralho, controlador e stalker. Quando Cecilia consegue escapar do seu controle, ele, com ajuda de um traje, conduz um plano para recuperar o controle sobre a ex-parceira.

E é aí que O Homem Invisível se torna um filme interessante, pois discute o bê-a-bá de um relacionamento abusivo. O abusador começará de leve, com demandas aparentemente inocentes, e escalará o controle e violência de modo que a vítima não pode mais escapar. Tentará fazer tudo ser culpa da vítima, e separá-la da rede de apoio.

E quando a vítima escapar, ele irá persegui-la. Ele jamais admitirá o que fez.

O traje de invisibilidade construído por Adrian eleva o abuso a um nível impensável de crueldade e requinte nesse sentido, pois é uma arma poderosa para fazer Cecilia parecer louca, violenta, e causar conflito entre ela e a sua rede de apoio.

Adrian Griffin tá nessa foto

O trabalho da câmera no filme conseguiu reproduzir no espectador a tensão da protagonista, alongando-se por longos períodos em frames vazios para nos fazer questionar: o homem invisível está nesse frame? Onde ele poderia estar? O que está fazendo? Essas perguntas são respondidas da maneira mais traumatizante possível.

De modo geral, é um filme muito bem construído cujo roteiro consegue transmitir bem o horror de se estar sob o jugo de um abusador, tudo isso em cenas visualmente inteligentes.

Agora, segue a parte dessa resenha que contém spoilers. E eu falo de maneira geral como o filme termina, então cuidado aí.

A parte mais interessante foi, de longe, o desfecho. Meus medos em relação ao final seriam se, para criar um plot twist, o homem invisível perseguindo Cecilia não fosse Adrian Griffin. Isso esvaziaria qualquer comentário a respeito do abuso sofrido pela protagonista, e inclusive faria o espectador se questionar se ele tinha mesmo feito tudo aquilo que Cecilia disse que ele fez.

O final foi agradável por não fazer isso e por não terminar em uma confissão. Uma confissão honesta da lista infindável de crimes diminuiria o fator de verossimilhança do filme. É bem estabelecido que abusadores quase nunca admitem o seu comportamento — e se admitem, é para diminuir a seriedade e transferir a culpa. Um confronto com o abusador nunca dará a uma vítima a resolução, pois nunca haverá um pedido sincero de desculpas. Qualquer admissão de eventuais comportamentos escrotos serão utilizados para recuperar o controle.

Bem, no caso, o confronto com Adam deu a Cecilia uma excelente resolução, mas não vou falar qual é, porque aí já vai ser spoiler demais.

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